terça-feira, 30 de novembro de 2021

José Saramago - Centenário do seu nascimento

José Saramago (1922-2010) foi um importante escritor português. Destacou-se como romancista, teatrólogo, poeta e contista. Recebeu o Prémio Nobel de Literatura, em 1998 e o Prémio Camões, em 1995 e os títulos Doutor Honoris Causa, em 1999, pela Universidade de Nottinghan, na Inglaterra e, em 2004, pela Universidade de Coimbra. José Saramago nasceu em Azinhaga de Ribatejo, no concelho de Golegã, distrito de Santarém. Portugal, no dia 16 de novembro de 1922. Filho de camponeses com dois anos de idade mudou-se com a família para Lisboa. José Saramago estudou em escola técnica onde concluiu o curso de serralheiro mecânico. Trabalhou como serralheiro, foi funcionário público na área da saúde e da Previdência Social. Autodidata, adquiriu grande cultura na literatura, filosofia e história. No passado dia 16 de novembro de 2022 tiveram início as celebrações relativas ao centenário do nascimento de José Saramago. Sendo uma figura controversa, não só pelas suas ideias como também pela forma como redigiu muitos dos seus textos e, consequentemente, várias das suas obras, José Saramago é considerado um dos grandes vultos da literatura contemporânea portuguesa e internacional, cuja atribuição do Prémio Nobel da Literatura, em 1998, assim o atesta. Desta forma, a efeméride que agora se celebra deverá constituir uma oportunidade privilegiada para melhor conhecer presença do escritor na história cultural e literária, em Portugal e no estrangeiro, propósito que poderá ser concretizado através da leitura de algumas das suas obras.
CARTA PARA JOSEFA, MINHA AVÓ

Tens noventa anos. És velha, dolorida. Dizes-me que foste a mais bela rapariga do teu tempo – e eu acredito. Não sabes ler. Tens as mãos grossas e deformadas, os pés encortiçados. Carregaste à cabeça toneladas de restolho e lenha, albufeiras de água. Viste nascer o sol todos os dias. De todo o pão que amassaste se faria um banquete universal. Criaste pessoas e gado, meteste os bácoros na tua própria cama quando o frio ameaçava gelá-los. Contaste-me histórias de aparições e lobisomens, velhas questões de família, um crime de morte. Trave da tua casa, lume da tua lareira – sete vezes engravidaste, sete vezes deste à luz. Não sabes nada do mundo. Não entendes de política, nem de economia, nem de literatura, nem de filosofia, nem de religião. Herdaste umas centenas de palavras práticas, um vocabulário elementar. Com isto viveste e vais vivendo. És sensível às catástrofes e também aos casos de rua, aos casamentos de princesas e ao roubo dos coelhos da vizinha. Tens grandes ódios por motivos de que já perdeste a lembrança, grandes dedicações que assentam em coisa nenhuma. Vives. Para ti, a palavra Vietname é apenas um som bárbaro que não condiz com o teu círculo de légua e meia de raio. Da fome sabes alguma coisa: já viste uma bandeira negra içada na torre da igreja. (Contaste-me tu, ou terei sonhado que o contavas?) Transportas contigo o teu pequeno casulo de interesses. E, no entanto, tens os olhos claros e és alegre. O teu riso é como um foguete de cores. Como tu, não vi rir ninguém. Estou diante de ti, e não entendo. Sou da tua carne e do teu sangue, mas não entendo. Vieste a este mundo e não curaste de saber o que é o mundo. Chegas ao fim da vida, e o mundo ainda é, para ti, o que era quando nasceste: uma interrogação, um mistério inacessível, uma coisa que não faz parte da tua herança: quinhentas palavras, um quintal a que em cinco minutos se dá a volta, uma casa de telha-vã e chão de barro. Aperto a tua mão calosa, passo a minha mão pela tua face enrijada e pelos teus cabelos brancos, partidos pelo peso dos carregos – e continuo a não entender. Foste bela, dizes, e bem vejo que és inteligente. Por que foi então que te roubaram o mundo? Mas disto talvez entenda eu, e dir-te-ia o como, o porquê e o quando se soubesse escolher das minhas inumeráveis palavras as que tu pudesses compreender. Já não vale a pena. O mundo continuará sem ti – e sem mim. Não teremos dito um ao outro o que mais importava. Não teremos realmente? Eu não te terei dado, porque as minhas palavras não são as tuas, o mundo que te era devido. Fico com esta culpa de que me não acusas – e isso ainda é pior. Mas porquê, avó, porque te sentas tu na soleira da tua porta, aberta para a noite estrelada e imensa, para o céu de que nada sabes e por onde nunca viajarás, para o silêncio dos campos e das árvores assombradas, e dizes, com a tranquila serenidade dos teus noventa anos e o fogo da tua adolescência nunca perdida: “O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer!”. É isto que eu não entendo – mas a culpa não é tua. José Saramago, Deste Mundo e do Outro (Crónicas), Lisboa, Editorial Caminho, 197.


sábado, 20 de novembro de 2021

20 de novembro: Dia Internacional dos Direitos da Criança


Declaração Universal dos Direitos das Crianças A Declaração dos Direitos da Criança foi adaptada da Declaração Universal dos Direitos Humanos, tendo a seguinte redação: 
• Todas as crianças têm o direito à vida e à liberdade.
 • Todas as crianças devem ser protegidas da violência doméstica, do tráfico humano e do trabalho infantil. 
• Todas as crianças são iguais e têm os mesmos direitos, não importando a sua cor, raça, sexo, religião, origem social ou nacionalidade.
 • Todas as crianças devem ser protegidas pela família e pela sociedade. 
• Todas as crianças têm direito a um nome e a uma nacionalidade. 
• Todas as crianças têm direito a alimentação, habitação, recreação e atendimento médico.
• As crianças portadoras de deficiências, físicas ou mentais, têm o direito à educação e aos cuidados especiais. 
• Todas as crianças têm direito ao amor, à segurança e à compreensão dos pais e da sociedade. 
• Todas as crianças têm direito à educação. 
• Todas as crianças têm direito de não serem violadas verbalmente ou serem agredidas por pais, avós, parentes, ou mesmo a sociedade.